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27/06/2013

Quem pertence à nossa Familia?


1. Todos os filhos, também os abortados, doados ou esquecidos. Aqui contam tanto os meio-irmãos como os irmãos inteiros.
2. Os pais e os seus irmãos de sangue, também os abortados, doados e esquecidos.
3. Parceiros antigos dos pais. Eles se manifestam através dos filhos da próxima relação, se eles não forem vistos como pertencentes a família e reconhecidos como tal.
4. Os avôs. Porém sem os irmãos, havendo algumas exceções neste aspecto. Aqui contam também os antigos parceiros dos avôs.
5. Adicionalmente – e isto é uma novidade, que só veio à tona através da Constelação Familiar – também pertencem à família todos que, através da sua morte ou da sua perda, trouxeram alguma vantagem aos membros da família. Eles assim contribuíram para a sobrevivência da família atual e os seus descendentes.
6. Quando membros da família são culpados pela morte de alguém, as suas vítimas pertencem à família e precisam ser reconhecidas como tal.
7. Isto também vale ao contrário.  Se, na família, há vítimas de assassinos que não pertencem à família, estes também acabam pertencendo a ela. Isso se demonstra quando membros posteriores da família os representam, se esses não forem reconhecidos. Isto significa: os membros sentem a energia assassina daqueles dentro de si, mesmo se não sabem nada deles. Na verdade todos que nós rejeitamos ou ficamos culpados em relação a eles, serão mais tarde representados por outros membros da família, pelo menos no sentimento, mas muitas vezes também no comportamento.

Texto atribuido à Bert Hellinger - disponivel na home-page oficial:  http://www2.hellinger.com/br/pagina/constelacao-familiar/quem-pertence-a-nossa-familia/

Nova edição: Aonde estão as Moedas?

Saiu a segunda edição da obra de Joan Garriga pela Editora Saberes.

A primeira edição estava esgotada nas livrarias do Brasil e os colegas e clientes estavam com grande dificuldade para encontrar esta obra, que de maneira tão simples e clara fala do equilíbrio entre dar e tomar entre pais e filhos.




Neste Blog: Segue um breve conto, que faz parte do livro do psicólogo e facilitador de Constelações Familiares Joan Garriga Bacardi, e que conta sobre os princípios que regem as nossas relações interpessoais – desde a primeira infância até os últimos momentos de nossa vida. É uma parábola que fala das trocas relacionais e dos vinculos – de sua força e capacidade para nos levar adiante e com suave movimento ou manter-nos paralisados e engessados em situações repetitivas.

http://www.aconstelacaofamiliar.blogspot.com.br/2012/08/conto-onde-estao-as-moedas.html

20/06/2013

Artigos introdutórios sobre Constelação Familiar em Revistas de grande Circulação

Constelação Familiar Sistêmica: a Terapia que mudou a minha vida!

"Constelação Familiar Sistêmica é uma terapia criada pelo psicanalista alemão Bert Hellinger, que ocorre de forma energética e fenomenológica.  A terapia acontece em um local onde haja espaço para um grupo de pessoas e sua movimentação. Há um terapeuta que comanda a sessão, chamada de Constelação. Pouco é falado pelo terapeuta.  E menos ainda pela pessoa constelada (o paciente). A sessão ocorre em forma de movimentos: a energia surge do inconsciente do constelado e um grande fenômeno acontece.
O terapeuta pergunta ao paciente o que ele veio buscar ali hoje. O paciente responde, por exemplo, que precisa resolver um problema em seu casamento. O terapeuta solicita que a pessoa constelada escolha uma pessoa do grupo presente para representá-lo. A pessoa então escolhe alguém e posiciona a mesma no espaço que se tem para a constelação, denominado como campo (geralmente uma grande sala vazia, rodeada de pessoas sentadas à sua volta). O constelado se senta. Em segundos a pessoa que foi colocada no campo como representante começa a se movimentar. Esta pessoa simplesmente sente vontade de agir de uma determinada forma e o faz. Cada gesto tem um significado. E o terapeuta pode ler através desses gestos, os passos seguintes a serem executados. Mais pessoas vão sendo escolhidas, uma a uma, para representar a situação da pessoa constelada. No exemplo citado, se escolheria mais um representante para o cônjuge. Em seguida, representam-se os pais para o constelado e seu cônjuge. Filhos, irmãos e outros podem ser também representados. A ordem das representações e quem acabam sendo representados é sempre orientado pelo terapeuta.
O que ocorre é que os representantes no campo da constelação acabam agindo como atores mágicos, atuando como os personagens da vida da pessoa constelada. Podem-se ver pessoas chorando, gritando, dançando, falando, como se tivesse existido ali um roteiro criado e estudado da vida daquela pessoa. É algo tão real, que chega a parecer mágico.
Uma constelação pode durar trinta minutos, uma hora ou até uma hora e meia. Não existem regras. Existe um movimento energético que todos sentem e o terapeuta além de sentir, interpreta e guia. Através dos acontecimentos mostrados pelos representantes, o constelado vê a sua própria vida passando pelos seus olhos, mas sob uma nova perspectiva: do todo! A constelação familiar sistêmica leva sempre em consideração a importância dos membros da família: pais, avós, irmãos, filhos e netos, além de cônjuges, filhos adotados e quem mais pertencer aquele ciclo familiar. Ninguém nunca pode ser excluído. Ou veem-se as consequências de tal exclusão no mesmo meio familiar.
É possível se descobrir segredos através de uma constelação familiar, uma vez que toda a verdade que cerca a vida de uma pessoa e sua família está impregnada em seu inconsciente. E aí então se manifesta. Por exemplo: pode existir numa família uma criança que foi adotada, que não é legítima, mas que não foi apresentada como tal. Numa constelação, esta informação se revela. Bem como outras.
A constelação familiar é uma terapia intensa, surpreendente. Chega a ser chocante, tamanha verdade que se vê e o pouco que se compreende em sua manifestação. Não apenas a pessoa constelada se beneficia em sua sessão, mas todos os representantes que participam da terapia, pois os representantes acabam sempre sendo escolhidos energeticamente pelo inconsciente do constelado, de forma que aquela pessoa sempre terá alguma identificação em si mesmo com o que virá a representar no campo. Esta também se beneficia: se cura.
Segundo Bert Hellinger, não devemos tentar entender o que acontece numa constelação. Quando se tenta compreender, de alguma forma interrompemos ou atrapalhamos a energia que está no comando da situação. Como seres humanos, confusos e tão pequenos, afirmo que é muito difícil ver tamanha manifestação e não tentar compreendê-la. Mas aos poucos aprendemos a apenas aceitá-la e não mais entendê-la.
Quando uma sessão acaba, pode ser que a mesma tenha indicado uma tarefa a ser realizada, por exemplo: conversar com o cônjuge sobre algo do passado, que transformou aquela união em algo ruim. Ou pode ser que nada mais precise ser feito. A energia liberada ali continua se manifestando. E as mensagens trocadas naquele momento agem como se realmente tivessem acontecido com as pessoas reais ali representadas.
Quando eu mesma fiz a minha primeira constelação, fiquei em estado de choque por alguns dias. Descobri alguns segredos de mim mesma e de demais. Após duas semanas, comecei a perceber grandes mudanças em mim. Com o passar do tempo, percebi que as pessoas envolvidas em minha sessão também haviam começado a mudar em relação a mim e as minhas questões.
A mudança foi tamanha que constelei mais duas vezes, de meses em meses. Esta não é uma terapia que pode ser feita regularmente como a pessoa a ser constelada. Tem que se dar tempo ao tempo, literalmente. Como representante pode-se participar sempre.
Meses após minhas constelações, vi mudanças que nunca, nem como escritora, havia sonhado. Nem em meu pico mais alto de criatividade poderia ter inventado tamanhas reviravoltas em minha vida. Estas que me levaram a um estágio melhor de vida e consciência: autoconhecimento e aceitação. Resignação diante daquilo que é, do que não se muda.
Muito há para se falar da Constelação Familiar Sistêmica. Apesar de adepta à terapia, ainda sinto que apenas duas páginas para se falar do assunto é extremamente pouco. Mas enquanto não me especializo no assunto para a escrita do merecido e sonhado livro a respeito, fica aqui o meu testemunho e desejo, de que todos saibam da existência e poder desta viva terapia.
A Constelação Familiar Sistêmica, a meu ver, é a mais intensa, forte e viva terapia nos dias atuais. Para alguns pode ser que seja intensa e real demais. Ainda assim, vale a pena conhecer e falar com o terapeuta a respeito. E depois, talvez, se decidir por ela!" 

Fonte: Artigo de Carolina Vila Nova para o site Conti Outra - http://www.contioutra.com/constelacao-familiar-sistemica-a-terapia-que-mudou-a-minha-vida/

 



Relatividade da teoria: Como funciona a Constelação Familiar, uma terapia inventada pelo alemão Bert Hellinger que promete curar males físicos e espirituais em interpretações teatrais de menos de uma hora.

A situação: uma menina perde o irmãozinho, cresce, casa-se e tem um filho que, na adolescência, fica viciado em drogas. A explicação: quando um membro da família morre, é excluído ou tratado com desrespeito, isso cria problemas que vão se manifestar uma ou mais gerações adiante. Assim funciona o mecanismo de descoberta e superação preconizado pela Constelação Familiar, método terapêutico desenvolvido por Bert Hellinger, um ex-padre alemão, hoje com 83 anos, que usa elementos da psicanálise, em especial da vertente junguiana, das técnicas de psicodrama e de algumas convicções de cunho muito pessoal sobre a origem de problemas físicos e psicológicos. Praticada no Brasil há doze anos, a Constelação começou como um método exótico, mas vem ampliando atividades, sobretudo em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Seu pilar central é a crença de que muitos problemas da vida presente de uma pessoa estão relacionados com a forma como seus pais e antepassados em geral lidaram com exclusão, doença e morte. "Bert estudou a psicanálise e percebeu que havia questões que não estavam no nível da consciência, uma vez que elas haviam sido criadas antes do nascimento. Por isso, para muitos pacientes, a teoria psicanalítica não ajudava em nada", diz o discípulo e médico holístico Renato Bertate. "Entre as gerações de uma família, há um equilíbrio de forças que faz com que os acontecimentos da vida de um antepassado reverberem na vida dos mais novos." 

Como sempre acontece com métodos alternativos que prometem soluções rápidas, a Constelação é veementemente criticada na esfera das disciplinas consagradas. "Trata-se de um trabalho apenas esotérico", diz Alexandre Saadeh, psiquiatra do Hospital das Clínicas de São Paulo. "Não é brincadeira mexer com conteúdos da vida familiar. É preciso que o paciente tenha um acompanhamento psicoterápico especializado para enraizar suas questões, e isso simplesmente é descartado nas constelações. Muitas das pessoas que aplicam o método não são psicólogos nem psicanalistas."

O método propõe a cura de males físicos complexos, como psoríase e abortos naturais, e emocionais, como síndrome do pânico e depressão. Tudo acontece em uma única sessão de cerca de uma hora, com um grupo de pelo menos quinze pessoas que acreditam na proposta e são convidadas a participar. Elas ficam dispostas em círculo, num salão. O constelado paga 350 reais e expõe seu problema à pessoa treinada no método, o "facilitador", em uma frase muito breve, como "Eu não me relaciono bem com meu pai" ou "Penso muito em suicídio". Em seguida, escolhe pessoas do grupo para representar no meio do círculo, em uma espécie de teatro, seus pais, irmãos e ele mesmo. O facilitador vai pedindo informações sobre a família e, à medida que surgem novos membros considerados importantes por ele (um tio alcoólatra, uma avó depressiva), outros do grupo são arregimentados.

 Desenvolve-se assim uma encenação da história familiar, não necessariamente baseada na realidade, a partir de interpretações do facilitador e improvisações dos encenadores dos personagens. Acaba, em geral, com "pais" e "filhos" se perdoando e aceitando. O clima é muito emocional. Os participantes se abraçam, choram e até passam mal. "Se o constelado entende e aceita o que aconteceu com seus ancestrais, sua vida se transforma. A relação com os filhos melhora, e ele pode até ter avanços na vida profissional", diz a facilitadora Maristela de André, que é economista e engenheira de formação – o método pode ser conduzido por pessoas de qualquer profissão, desde que façam um curso de um ano e meio aplicado por alguém treinado por Hellinger em pessoa. Existem cerca de 200 dessas pessoas atualmente no Brasil. "A técnica se utiliza de recursos empobrecidos do psicodrama. Além disso, pedir perdão faz parte de uma prática religiosa, e não terapêutica", ressalva Márcia Batista, professora de psicodrama da Pontifícia Universidade Católica, de São Paulo. A despeito das objeções dos especialistas, muitos constelados dizem que sua vida melhorou. O consultor de empresas Marcelo Victorino, 40, de São Paulo, buscou a cura de fortes dores nas costas. Na sessão, contou que seu pai brigava muito com sua mãe. "Durante o trabalho, a facilitadora convocou personagens para representar meus quatro avós. Descobri que os avós paternos, que eram árabes, não aceitavam o casamento do meu pai", relata. Victorino continua a sentir dores, mas acha que agora sabe "por que elas existem". A publicitária Renata Feldman, de 35 anos, também identificou em experiências familiares a origem dos ombros doloridos: "Na sessão, lembrei de um ex-padrasto que maltratou muito a minha mãe e assumi que tenho uma péssima relação com meu irmão. A facilitadora me fez entender que carrego no corpo a vivência dessas dores".

Hellinger já esteve três vezes no Brasil e virá de novo em maio do próximo ano para um seminário que já tem 100 inscritos. É, por motivos óbvios, um personagem intensamente polêmico. Além de seu método ser considerado esotérico e patriarcal, também é acusado em sites na internet de simpatizar declaradamente com Adolf Hitler. "Bert apenas diz que ninguém é superior a ninguém e que não somos melhores que Hitler. Ele acredita numa dinâmica de gerações e prega que os que condenarem Hitler, que o excluírem, jamais terão paz em sua vida", declara Mimansa Erika Farny, alemã radicada em Goiás, discípula direta de Hellinger e responsável pela introdução da terapia no Brasil. "Nossa técnica trilha o mesmo caminho da homeopatia, que sempre foi hostilizada e agora é aceita", acredita. "A Constelação pode até ser vista como um jeito novo de terapia familiar. Mas não tem fundamentação sólida, nem décadas de experiência acumulada, como a psicanálise", rebate a terapeuta de família Lidia Aratangy. 

Fonte: Revista Veja - Comportamento -  Edição 2126 / 19 de Agosto de 2009 - por Juliana Linhares - http://veja.abril.com.br/190809/relatividade-teoria-p-118.shtml





Faça o amor dar certo - Amar e ser amado é o que todos desejamos, mas nem sempre conseguimos. Conheça o método do terapeuta Bert Hellinger para refazer o fluxo do amor

O desejo de amar e ser correspondido é universal. O teólogo e terapeuta alemão de Bert Hellinger, 78 anos - autor do livro Para que o Amor Dê Certo (ed. Cultrix) -, desenvolveu um método para que o seu amor tenha mais chances de dar certo.

Há mais de três décadas, ele trabalha fazendo atendimentos individuais e para casais e sistematizou o método chamado constelações familiares, que busca primeiramente restabelecer o fluxo do amor entre pai, mãe e irmãos para depois rever os laços com parceiros amorosos.

Hellinger acredita um novo amor só poderá ser bem-sucedido se houver o reconhecimento de tudo o que nos foi dado pelos demais relacionamentos. A primeira relação amorosa tem influência sobre todas as outras. Segundo o terapeuta, a rejeição consciente ou inconsciente de amores passados bloqueia a força de um novo amor. "As próximas relações serão mais enriquecedoras se você levar a sua experiência junto do que se você for vivê-las como se fosse a primeira."

 O respeito à individualidade

O respeito ao espaço de cada um é outro aspecto fundamental para o sucesso de um relacionamento. Para amar, é preciso aceitar duas solidões: a sua própria e a do outro. "Numa relação deve haver respeito por segredos. É ridículo querer que se conte tudo ao outro. Não se pode agir como um intruso na alma do outro, mesmo em relacionamentos duradouros."

 Sexo é essencial

Além do amor e da disponibilidade para a convivência, o terapeuta cita o sexo como o terceiro elemento essencial na relação de um casal. Para ser completo, o sexo tem de ser aprendido, exercitado e combinado ao amor. "Muitas vezes, quando as pessoas fazem sexo, elas estão mais em contato com elas mesmas do que com o outro. Quando o amor também atua, elas são capazes de ficar juntas e partilhar uma vida comum, o que é algo bastante diferente", diz o terapeuta.

Não fale mal de seus pais

Muitos dos problemas de relacionamento que acontecem no presente têm a ver com a forma como nossos pais, avós e bisavós lidaram com a exclusão, a doença, a morte ou o esquecimento de entes muito próximos. Essa é a base da terapia das constelações familiares, de Bert Hellinger.

Entretanto, Hellinger não aceita nenhuma queixa aos pais em seu trabalho terapêutico. "Você pode olhar para seus pais de diferentes formas. Eles não são melhores ou piores do que os outros. O crescimento só poderá ocorrer com certas resistências e dificuldades. Quando um paciente reclama de seus pais, está fazendo-os responsáveis por sua própria incapacidade", nota.

 Como acontece a sessão

Primeiro, o paciente coloca a questão que quer resolver e escolhe pessoas do grupo para representar seus pais, irmãos e outros membros da família. O paciente fica de fora e tem a oportunidade de observar a situação de conflito que determinou o bloqueio do amor.

"Os participantes respondem a perguntas simples do terapeuta. Elas revelam a raiz do problema sem interpretá-lo. Assim os papéis familiares são reposicionados seguindo uma ordem em que o amor possa fluir livremente, em que cada um retome seu lugar. O trabalho não é focado em questões psicológicas, mas nos padrões de comportamento gerados em determinado sistema familiar", completa Renato Shaan Bertate, médico paulista, especialista nessa linha terapêutica.

As sessões são feitas em workshops nos fins de semana. A resposta a cada questão pode durar de 15 minutos a duas horas e não há a necessidade de acompanhamento posterior. "A redefinição dos papéis e as mudanças necessárias acabam acontecendo de forma natural e beneficiam todos os envolvidos afetivamente na história", conclui Renato.

Fonte:  Publicado em 27 de Janeiro de 2010 na Revista Bons Fluidos - por Liliane Oraggio / Fernando Eichenberg - http://casa.abril.com.br/materia/faca-o-amor-dar-certo


 Herança comportamental - Problemas e conflitos atuais podem ter origem no histórico familiar




Dificuldade financeira crônica, que nem o melhor dos salários parece resolver; insatisfação profissional constante, que perdura mesmo diante da mudança de emprego; bloqueio emocional persistente, que te faz encerrar qualquer tipo de relacionamento ao menor sinal de envolvimento afetivo. É bem provável que você já tenha vivido alguma situação assim, aparentemente inexplicável, mas que segue por anos a fio, sem que consiga entender o porquê e nem como ela volta a acontecer.

É bem possível, também, que o problema não tenha necessariamente uma relação direta com você. Sim, é exatamente isto o que defende um corrente de profissionais adeptos à linha de pensamento do filósofo e psicoterapeuta alemão Bert Hellinger. Para ele, alguns dos nossos obstáculos atuais são uma herança de nossos antepassados, que assumimos inconscientemente. Ou seja, aquela dificuldade que você não consegue decifrar, na verdade, é uma recorrência de algo mal resolvido ou não superado por algum membro da família – e você pode estar condenado a ter de carregar o mesmo fardo.

“Hellinger, após anos de observações e aprendizados, percebeu que existiam padrões de comportamentos que se repetiam ao longo das gerações. Segundo ele, a consciência nos vincula à nossa família e até a outros grupos. Mesmo inconscientemente, sentimos como exigência e obrigação para nós o que outros membros do grupo sofreram ou ficaram devendo uma resolução”, explica Delmar Franco, gestora do Instituto Evoluir.

Batizado de Constelação Familiar, o método psicoterapêutico criado por Hellinger tem uma abordagem sistêmica fenomenológica, com base filosófica.

“O princípio da Constelação Familiar é a fenomenologia. Significa estar aberto a compreender algo que está por trás do fenômeno sem julgamentos, livre de intenções e medo. Outro princípio é a ordem do amor, uma vez que é preciso amar as pessoas cuja verdade quero conhecer”, explica Irene Cardotti, psicoterapeuta e especialista em Constelação Familiar.

Como um retrato vivo, a constelação revela bloqueios e vínculos secretos, a fim de encontrar uma solução nova e libertadora. “O objetivo da Constelação Familiar é solucionar questões de ordem afetiva, financeira, familiar e social que estejam impactando negativamente a vida das pessoas, transferindo-se de geração a geração”, resume a coaching Selma Amaro.

“Através dos trabalhos das Constelações, podemos entender como as ações e destinos de nossos antepassados podem influenciar a nossa vida atual, causando problemas de saúde, dificuldades econômicas ou conflitos em nossos relacionamentos familiares e afetivos”, defende Selma.

Como funciona?

 Cada constelação lança luz sobre o espaço desconhecido onde se ocultam fatos e sentimentos adotados de outros membros da família, cuja herança traz reflexos negativos sobre as relações efetivas e a saúde.

 O atendimento pode ser individual ou em grupo. Individualmente, utilizam-se figuras ou bonecos para representar os familiares. Nos grupos, os participantes são convidados a assumirem os papéis dos membros da família de um determinado paciente que está trabalhando a sua Constelação Familiar.

 Segundo os especialistas, no decurso de uma Constelação Familiar os membros que representam o papel dos diferentes integrantes da família de outro participante expressam com autenticidade os sentimentos e sensações desses antepassados.

 Para o biólogo inglês Rupert Sheldrake, isso é possível porque a transmissão hereditária não se propaga só através dos genes, mas também através de campos morfogenéticos que encerram uma espécie de memória coletiva da espécie. Cada indivíduo da mesma espécie enriquece o seu campo e conecta-se com essa memória.

De acordo com o cientista, os campos mórficos são estruturas que se estendem no espaço-tempo e moldam a forma e o comportamento de todos os sistemas do mundo.

Por isso, a técnica da Constelação Familiar seria verdadeiramente capaz de decifrar enigmas, tais como a razão da existência de sentimentos, sensações, pensamentos e situações conflitantes, que não condizem com a realidade atual.


Temas que podem ser solucionados com a Constelação Familiar:

  • Dificuldade de se relacionar;
  • Problemas financeiros;
  • Dificuldade de lidar com perdas;
  • Indecisão profissional;
  • Doenças em geral;
  • Dependência química ou comportamento autodestrutivo;
  • Conflito (entre pais e filhos, casais, sócios, etc.);
  • Dificuldade de comunicação;
  • Comportamento compulsivo, fobias, vícios e obsessões;
  • Depressão;
  • Sentimento de “não pertencer“;
  • Traumas. 

Fonte: Revista SuaEscolha : Herança comportamental - Problemas e conflitos atuais podem ter origem no histórico familiar (in http://www.suaescolha.com.br/portal/comportamento/181-heranca-comportamental.html )








No fluxo do coração - É possível desmanchar os nós causados por histórias de família mal resolvidas e refazer laços. Apaziguados com a nossa trajetória, podemos seguir plenos na direção dos nossos verdadeiros propósitos
 
Rogério cansou de abrir e fechar negócios. Parece que em suas mãos os empreendimentos murcham. Já Matilde coleciona uma sucessão de chefes intransigentes. Diariamente tenta atravessar muralhas. Pedro, por sua vez, vive às turras com o pai. Enquanto o problema crônico de Juliana é que, desde a adolescência, só se relaciona com parceiros do tipo demolidores – especialistas em depreciá-la.

A vida de muita gente é marcada por situações que se repetem, cutucando aquele mesmo ponto dolorido. Vira e mexe caímos na mesma cilada, como se uma força desconhecida disparasse dentro de nós a tecla repeat. Do ponto de vista da psicologia, caímos no mesmo buraco porque agimos em função de complexos inconscientes. “A memória de vivências que trouxeram grande sofrimento para a pessoa, que no momento não tinha condições de lidar com aquilo, é aparentemente ‘apagada’ da consciência, mas fica no arquivo inconsciente”, explica a psicoterapeuta paulista Cristiane Marino. Sempre que algum evento externo tiver a menor semelhança com aquela determinada memória, esse conteúdo transborda, como para lembrar que continua vivo e atuante. A tendência é continuar assim até cair a ficha de que é preciso interromper esse ciclo vicioso. E a melhor maneira de desatar esses enroscos é iluminando as partes nebulosas de nós mesmos através de algum trabalho terapêutico. Sob a perspectiva das constelações familiares (nome derivado do inglês constellate, no sentido de posicionar certos elementos numa dada configuração que torne a questão mais clara aos olhos de todos), os nós ocultos que governam nossas vidas, sedimentando padrões negativos, são chamados de emaranhamentos. E podem ser desfeitos, um a um. 

Segundo o criador do método, o ex-padre e terapeuta alemão Bert Hellinger, que completa 90 anos em dezembro, esses emaranhamentos acontecem quando transgredimos três leis fundamentais dos relacionamentos humanos bagunçando a ordem do amor. São elas: precedência – sempre respeitar quem chegou primeiro (pais são maiores que fi lhos, inclusive quando os progenitores se tornam idosos. Nesse caso, os filhos permanecem menores, mas, ao mesmo tempo, precisam atender as necessidades dos pais com zelo e humildade); pertencimento – todos devem se sentir parte do sistema (ao invés de evitar o convívio com algum parente porque destoam de nosso estilo de vida, é importante incluí-lo); equilíbrio entre dar e receber (num casal, por exemplo, ambos devem nutrir a relação com cuidados e valorização recíprocos). Encontrar obstruções desses tipos no histórico familiar e trazê-las à consciência, reposicionando algumas atitudes, é o objetivo do método terapêutico. 

Para que o conteúdo inconsciente se revele, no entanto, é preciso que uma teia de relacionamentos fique explícita. Na terapia das constelações familiares funciona assim: um facilitador, em geral, terapeuta, conduz a história de um cliente dentro de workshops onde se realizam várias constelações (mecanismo que joga luz naquelas situações mais emaranhadas da vida de cada um). Depois de contar o que a trouxe ali e de responder perguntas preliminares sobre seu contexto familiar, a pessoa escolhe entre os presentes no grupo aquele que irá representá-la, bem como seus entes queridos. E passa a observar a encenação (a técnica se diferencia do psicodrama porque os participantes não se manifestam livremente, apenas quando indagados pelo facilitador. Além disso, a compreensão do pano de fundo das dinâmicas familiares se baseia exclusivamente nas três leis do amor). 

Os representantes respondem, como se fossem os personagens em questão, a perguntas simples do facilitador. Exemplo: “Seus pais estão casados a muito tempo?”. E são convidados a dizer, de tempos em tempos, como estão se sentindo – se desejam rir, chorar, fazer algum movimento, se sentem dor em alguma parte do corpo etc. O surpreendente é que, na maioria das vezes, falas, sentimentos e gestos ali externados por pessoas completamente desconhecidas do constelante (a pessoa que tem uma questão para resolver) coincidem com o jeito de ser dos entes a quem se referem.

A posição dos representantes no espaço, bem como seus sentimentos e impulsos, dão pistas preciosas. “É como se eu fosse juntando as peças de um quebra-cabeça, guiada por hipóteses que vão se confirmando até chegar ao ponto central do emaranhamento”, compara a paulista Maria Izabel Rodrigues, psicoterapeuta, consultora organizacional e ministrante de cursos de formação e workshops em São Paulo e no Rio de Janeiro.

De acordo com a teoria de Hellinger, o que acontece com um membro da família inevitavelmente afeta os demais porque todos integram a mesma rede. A dificuldade de um se reflete no outro, assim como potenciais e virtudes. Por exemplo: uma pessoa fica estagnada em solidariedade a um parente que padeceu da mesma forma no passado. “É como se disséssemos: ‘Por amor a você, ficarei triste, doente ou fracassarei’. Como se quiséssemos assumir o fardo no lugar da pessoa”, explica o médico Décio Fábio de Oliveira Júnior, cofundador do Instituto Bert Hellinger Brasil Central (IBHBC) ao lado da esposa Wilma Oliveira. 

Isso ocorre porque temos a tendência a fazer pactos inconscientes com nossos antepassados, mesmo os mais distantes, nos identificando com suas dores e tentando, de alguma forma, expiá-las. Por isso, muitos repetem comportamentos destrutivos. Também são recorrentes tentativas de compensações motivadas pela culpa por alguma falta que acreditamos ter cometido. É o caso de um fi lho que se sente responsável pela tristeza da mãe e que se cobra soluções que estão muito além do seu alcance. Em ambos os casos, o problema de fundo é uma percepção distorcida da realidade. Uma vez identificado o nó, é hora de desconfundir as coisas, desmisturá-las. E de repactuar consigo mesmo algumas atitudes.

O facilitador, então, pede aos representantes que repitam frases de cura, que inspiram aceitação e gratidão por tudo o que se recebeu, do jeito que foi possível. Costuma-se dizer: “Sinto muito por não ter dado o que você precisava receber, mas isso não tem nada a ver com o meu amor por você, e sim com as minhas dificuldades”. Ou ainda, “Eu sou a fi lha e você é o pai, eu sou pequena e você é grande” (muitos são os pais e fi lhos que invertem papéis e sofrem por isso. Quando esse desequilíbrio hierárquico se revela, o facilitador pede que o constelante se sente num banco e fi que mais baixo do que seus progenitores para poder incorporar física e simbolicamente seu lugar na família.). “Após esses dizeres, a sensação de harmonia no sistema é intensa”, garante Maria Izabel. Não raro, algo que a pessoa jamais cogitou como causa do seu nó, emerge. A essa altura, o cliente é convidado a tomar o lugar do seu representante a fi m de sentir o campo harmonizado e absorver a força dele emanada (confira mais abaixo).

O fenômeno tem explicação: Você deve estar se perguntando: “Como alguém que desconhece o constelante e sua família pode fazer gestos e dizer coisas como se fosse a pessoa representada?”. Ou então: “Como eventos vividos por antepassados longínquos podem influenciar nossa vida aqui e agora?”. Ambos os fenômenos se explicam com a ajuda de duas teorias. A primeira é a Teoria dos Campos Morfogenéticos, formulada pelo biólogo inglês Rupert Sheldrake, autor de Ciência sem Dogma (ed. Cultrix). O pesquisador descobriu que há uma inteligência que precede a nossa existência física e que se manifesta de maneira sutil, com forte tendência a repetir aquilo que acontece com maior frequência. “Cada vez que ocorre a repetição de um fato, esse campo aumentaria a força e a probabilidade de determinado evento ocorrer nas gerações seguintes”, diz Maria Izabel. Uma segunda explicação parte da epigenética, ciência que estuda a ação do meio ambiente e dos pensamentos sobre a biologia. Referência nessa área, o biólogo norte-americano Bruce Lipton, autor de Biologia da Crença (ed. Butterfl y), descobriu a existência de nanorradares em nossas células. Segundo o estudioso, essa microantenas captam os conteúdos da esfera inconsciente, permitindo que dados aparentemente misteriosos alcancem a consciência.

Quando desvelados e harmonizados, os fi os embaraçados das histórias dão lugar a percepções mais lúcidas dos acontecimentos, que, por sua vez, são acompanhadas de atitudes de respeito, aceitação, responsabilidade, reverência e inclusão. “Não se trata de mágica. As constelações não solucionam automaticamente todos os problemas. É preciso que a postura do cliente se modifique a partir de uma reformulação que vem do coração”, enfatiza Décio. A enfermeira paulista Ana Paula Mikulenas teve o privilégio de experimentar essa possibilidade antes do falecimento do seu pai. Os dois se reaproximaram quando ele adoeceu. “Meu pai não recebeu da mãe tudo o que gostaria e acabou me colocando no lugar dela. Então eu queria resolver tudo por ele. Após a constelação, reassumi a posição de fi lha, atendo-me a esse papel, sem interferir diretamente nas demandas do meu pai. Assim esse padrão foi gradativamente desaparecendo”, diz ela, que, desde aquele momento, passou a viver de forma mais leve e consciente. “Ao compreender as dificuldades de nossos antepassados, passamos a sentir compaixão por eles, e desse sentimento surge a aceitação das coisas como elas são, o que nos apazigua e abre caminhos”, resume o empresário José Roberto Freitas, de São Paulo. Depois de seu fi lho descobrir que era desacreditado por ele porque ele também fora desacreditado por seu pai e este por seu avô, sua vida pôde se refazer sobre bases de compreensão entre as gerações. 

Já o casal de administradores Renato e Renata Farias, também de São Paulo, aceitou a indicação da médica homeopata da família, iniciada no método, após sucessivas tentativas frustradas de gerar um fi lho. “Não tínhamos mais opções. Então, chegamos de peito aberto ao procedimento”, conta Renato. Três meses depois, bebê à vista. “Ficou claro que havia uma interrupção do fluxo do amor entre meu sogro, um militar muito severo, filho de um homem com dificuldade de demonstrar afeto, e meu marido. Na constelação, essas relações puderam ser reparadas de alguma forma”, avalia a esposa. Segundo Maria Izabel, que conduziu o processo, inconscientemente, Renato temia reviver a história paterna com seu descendente, e a gravidez não se consumava. 

Intensa e tocante, a experiência, na maioria das vezes, é bem assimilada pelas pessoas. Mas há quem demande acompanhamento psicoterapêutico após a constelação. A resposta à abordagem depende muito dos recursos internos e do grau de autoconhecimento de cada um. O interessante é que quem participa representando ou apenas assistindo também se beneficia. “A motivação primordial é, em última análise, a mesma: a busca de elos perdidos ou rompidos que precisam ser reatados”, observa o psicólogo e terapeuta Reno Bonzon, francês radicado em Salvador, que recomenda a escolha de facilitadores sérios e confiáveis, de preferência indicados por pessoas que vivenciaram o processo e saíram satisfeitas. 

Na observação de Hellinger, os insights e as transformações decorrentes da constelação se prolongam por até três anos. Por isso não é indicado trabalhar a mesma questão num curto intervalo de tempo. Também é possível aplicar a ferramenta no atendimento individual. Nesse caso, utilizam-se bonecos ou outros elementos de ancoragem.

Por sua eficácia, a constelação, que surgiu tendo a família como foco, acabou sendo transposta para outros grupos humanos, ganhando o nome de constelações sistêmicas. Hoje esse saber beneficia empresas, escolas e até a Justiça. Para se ter uma ideia, uma multinacional recorreu ao método para sondar quais chefias estavam alinhadas aos novos valores instituídos e quais ainda apresentavam certa resistência. 

Os princípios cunhados por Hellinger também norteiam a relação entre escola e pais. “Muitas questões relacionadas à aprendizagem e à desarmonia no ambiente escolar estão ligadas a desordens das leis do amor na rotina da escola”, afirma Hellen Vieira da Fonseca, consultora educacional especializada em pedagogia sistêmica, de Taguatinga (DF). 

Na Justiça, o maior exemplo vem do juiz Sami Storch, atuante em Amargosa, a 235 km de Salvador. Segundo ele, que aplica a metodologia desde 2010, pais em litígio acabam encontrando saídas pacíficas após dinâmicas que levam ao reconhecimento da importância de cada membro da família. Frases reparadoras como: “Você me fez ser mãe/pai, e por isso sempre será importante na minha vida”; “Foi difícil para mim, mas reconheço que você também teve dificuldades ao longo do nosso relacionamento” abrem os canais da conciliação. E o caudaloso rio da vida volta a correr.
Publicado em Dezembro 2015 na Revista Bons Fluidos -  Texto: Raphaela de Campos Mello - http://bonsfluidos.uol.com.br/noticias/capa/no-fluxo-do-coracao.phtml





Constelações Familiares e Judiciário: Reflexões Positivas
A conciliação no âmbito judicial se encontra instituída na legislação brasileira há bastante tempo, é  aplicada nas causas cíveis em geral e, com maior ênfase, naquelas relativas à vara de família e nas de menor complexidade, sujeitas ao rito previsto na Lei nº 9.099/95; também para o tratamento relativo aos crimes de menor potencial ofensivo, a mesma lei prevê a composição civil dos danos como forma de resolver conflitos evitando-se a instauração de uma ação penal.
Não obstante, ainda é alto o índice de rejudicialização (ajuizamento de novos processos entre as mesmas partes, quando o término do processo anterior - por meio consensual ou não - foi insuficiente para harmonizar o relacionamento entre as partes); também na área criminal e na de infância e juventude, são elevados os índices de reincidência e a reiteração de questões conflituosas envolvendo as mesmas pessoas, famílias e comunidades.
Nesse cenário, e sem falar na sofrida demora de uma instrução processual, reconhece-se que o processo judicial tradicional não é suficiente para que o Judiciário cumpra sua missão de resolver as demandas que se lhe apresentam.
Impõem-se, então, outros métodos que ofereçam a possibilidade de tratamento dos conflitos de forma mais adequada. Hoje a legislação já admite e incentiva os chamados métodos adequados de solução de conflitos (MASCs), prevendo expressamente a mediação, a arbitragem e outros (art. 3º, §§ 2º e 3º), e o CNJ estabelece, como incumbência dos órgãos judiciários, oferecer mecanismos de soluções de controvérsias, em especial os chamados meios consensuais, inclusive como forma de disseminar a cultura de pacificação social (Resolução nº 125/2010).
Além disso, a crise em que chegou a Justiça recentemente gerou, como efeito positivo, uma maior abertura para abordagens transdisciplinares, inovadoras e sistêmicas, desapegadas do legalismo estrito e das funções tradicionalmente reservadas ao magistrado. Nesse sentido, o CNJ editou aResolução Nº 225 de 31/05/2016, instituindo a Justiça Restaurativa, à qual cada vez mais juízes vêm se dedicando.
Nesse contexto é que os tribunais brasileiros vêm acolhendo e disseminando de forma exponencial as práticas de constelações familiares e de direito sistêmico, desde que as nossas primeiras experiências com palestras vivenciais, iniciadas na Bahia em outubro de 2012, começaram a mostrar impactos profundos e emocionantes, não só em relação às partes nos processos, mas também na postura e na vida de advogados, servidores e suas famílias.
Os resultados:
Na Vara de Família, as primeiras estatísticas mostraram soluções conciliatórias em índices superiores a 90% dos processos e as experiências mais recentes, outras comarcas pelo Brasil obtiveram resultados semelhantes.
Em casos de adolescentes envolvidos em atos infracionais, o índice de reincidência após um ano foi inferior a 15% - muito menor que o normalmente obtido com a mera aplicação de medidas socioeducativas tradicionais.
No aspecto qualitativo,  os resultados são mais marcantes, quando vemos casos como o de um homem e uma mulher que, pelo conflito oriundo da separação do casal e após anos de litígios, geradores de 25 processos (incluindo ações de divórcio, guarda dos filhos, alimentos, execuções, denúncias criminais de fraude empresarial e de violência doméstica), participam de uma constelação e, poucos dias depois, realizam um acordo que põe fim a todos eles e agora se tratam como amigos; o caso de um homem, conhecido na cidade como baderneiro, frequentador da delegacia de polícia, réu em ação penal sob acusação de homicídio, que passa a frequentar as sessões de constelação no fórum e poucos meses depois deixa de perambular pelas ruas, começa a trabalhar e reaproxima-se da família; ou o de um adolescente acolhido numa instituição porque seus pais não puderam criá-lo e que, aos 17 anos sem ter encontrado uma família adotiva, envolvido com traficantes e tido como “caso perdido”, faz uma constelação e em seguida é acolhido numa família substituta, com sucesso, retomando os estudos e o bom convívio social.
As constelações familiares, criadas pelo alemão  Bert Hellinger como uma abordagem terapêutica, hoje são reconhecidas como uma ciência dos relacionamentos humanos, utilizadas de diversas formas e em inúmeras áreas (como na educação, na assessoria empresarial, no marketing e na saúde). Através de seus muitos recursos, desde posturas, frases discretas e exercícios de visualização até a constelação propriamente dita (posicionamento de representantes das pessoas envolvidas em um conflito e de membros de suas famílias), as constelações permitem que venham à tona as dinâmicas ocultas que conduzem as pessoas a relacionamentos conflituosos e atos violentos, movidas pelos vínculos inconscientes com seus antepassados familiares.
Revelam-se, na constelação, as “ordens do amor” descobertas por Hellinger, que são leis sistêmicas que regem as relações e padrões inconscientes de comportamento. O conhecimento de tais leis sistêmicas nos conduz a uma nova visão a respeito da vida, do direito e de como as leis podem ser elaboradas e aplicadas de modo a trazerem paz às relações, liberando do conflito as pessoas envolvidas e facilitando soluções harmônicas e satisfatórias para todos os envolvidos - especialmente para os filhos, que então não mais estarão sujeitos ao mesmo “emaranhamento sistêmico” que determinou o padrão de conflito dos pais.
O conhecimento das ordens do amor permite a compreensão das dinâmicas dos conflitos e da violência de forma mais ampla, além das aparências, facilitando ao julgador e às partes em conflito adotarem, em cada caso, o posicionamento mais adequado à pacificação das relações envolvidas.
Essa abordagem pode ser utilizada como ferramenta de trabalho não apenas por juízes, mas também por mediadores, conciliadores, advogados, membros do Ministério Público e quaisquer profissionais cujo trabalho tenha como objetivo auxiliar as pessoas na solução de situações conflituosas. E o potencial disso fica evidente a partir do atual movimento de criação de Comissões de Direito Sistêmico, com grupos de estudo e prática, em inúmeras seccionais da OAB.
A constelação familiar é uma prática séria e profunda, que necessita de profissionais responsáveis e bem capacitados. O cuidado na seleção e capacitação dos profissionais é recomendável, como em qualquer profissão que lide com os relacionamentos e emoções humanas. Porém, os questionamentos e críticas se devem, principalmente, ao desconhecimento do que sejam as constelações, que não se confundem com psicoterapia ou religião.
Constelar um processo ou as partes não significa que estas tenham que expor qualquer intimidade, ou que o juiz vá se imiscuir em atividades próprias de um psicólogo. Pode-se fazer uma constelação sem uma única palavra, bem como tratar de temas delicados com constelação, em grupos, tocando em pontos sensíveis de várias pessoas sem falar de quem se trata e sem saber de qualquer detalhe relativo a fatos narrados nos autos.
Assim, achar que as constelações familiares se limitam a uma atividade profissional específica, semelhante a uma consultoria, sessão de coaching ou de terapia, demonstra desconhecimento da filosofia e da abordagem desenvolvida por Hellinger, e falar das constelações como se fossem uma mera técnica seria reduzir o seu significado e seu potencial.
Ao profissional dedicado ao direito sistêmico, fundamental é que se tenha internalizado em sua própria vida, alma e postura as ordens sistêmicas descobertas por Hellinger e que promovem a paz nos sistemas. É esta a alma do direito sistêmico.
É natural que alguns prefiram continuar com as mesmas tradicionais formas de operar o direito. É essa a postura mais conservadora e segura (principalmente para os próprios profissionais que resistem às adaptações e aprendizados que os novos tempos impõem). Estranho é esperar que das mesmas formas advenham resultados melhores que os já obtidos.

Aos que buscam sempre melhores práticas com vistas aos melhores resultados na resolução de conflitos, recomenda-se conhecer bem as constelações e o direito sistêmico.
Publicado em Julho 2018 na Carta Forense por Sami Storch: - http://www.cartaforense.com.br/m/conteudo/artigos/constelacao-familiares-e-judiciario-reflexoes-positivas/18232



Conheça a constelação sistêmica, terapia que ganha cada vez mais adeptos.

Usada no processo do próprio conhecimento e na solução de conflitos em diversas áreas, seja pessoal, seja profissional, a constelação foi até adotada pelo SUS.

Às vezes, não importa o quanto andamos, algo sempre nos puxa para trás. Um assunto não resolvido, um problema que foi jogado para debaixo do tapete, um medo irracional ou, até mesmo, uma dor sem explicação: tudo pode ser o emaranhamento de uma vida entrelaçada. Ou de várias vidas. É assim que pensam os consteladores sistêmicos, indivíduos que seguem uma linha filosófica espiritual baseada nos ensinamentos do terapeuta alemão Bert Hellinger, que identificou forças naturais que agem sobre as pessoas e podem interferir na trajetória delas. Essas interferências, acredita, podem ter causas intrínsecas nas gerações atuais ou até em encarnações passadas.
Na teoria, o assunto é complexo. Mas, quando aplicado na prática, as coisas simplificam, como garante Clarissa Vargas, 32 anos, que é taxativa: “A constelação familiar mudou a minha vida”. A atriz e apresentadora da TV Escola diz que a terapia a curou de dentro para fora, em um processo de autoconhecimento. “Ainda estou na busca, mas aprendi que nascemos com memórias celulares e em sistemas familiares, nos quais assumimos, muitas vezes, papéis que não são os nossos”, simplifica.
A psicóloga Luci Bernardes Barros é especialista em gestalt–terapia e atua na área há 18 anos. Nos últimos seis, também tem se dedicado à constelação sistêmica. Luci explica que se trata de uma terapia transformadora, essencialmente vivencial e fortemente referenciada nas sensações corporais, no sentir e no olhar. E vai além: a técnica mudou e ampliou muito sua prática e postura clínica.
De acordo com ela, é uma abordagem sistêmica e fenomenológica, que, em um único encontro, pode vir a descortinar uma dinâmica muitas vezes oculta no sistema familiar. “Não há lógica na constelação familiar, pois é uma filosofia profunda, que atua num nível de alma”, completa.
Clarissa Vargas garante que, em sua experiência com a constelação, aprendeu que o essencial é ter gratidão e aceitação “para que os vínculos doentios possam se desfazer de forma natural e energética, sem dor, apenas com sua permissão”. Ela também percebeu, enquanto ouvinte de outras constelações, o quanto recorrer a profissionais de qualidade faz toda diferença. “Percebo que os resultados podem emergir com mais efetividade quando o profissional tem, antes de diplomas de vários cursos aqui e acolá, verdadeira sensibilidade”, avalia.

Transformação

Para Clarissa, vale a pena investir nesse processo de autoconhecimento, pois as transformações na vida são gigantescas. “Não conheço outra terapia tão assertiva. Eu discutia com minha mãe por tudo, não conseguia emprego que me pagasse o que eu sentisse que merecia, não aceitava uma gravidez não planejada que tive e me sentia deslocada, sendo brasiliense de família gaúcha. Hoje, minha relação com minha mãe é de ampla admiração. Reconheço que a força feminina dela está em mim e, sem isso, eu não teria o impulso interno que tenho de lutar pelas coisas”, analisa.
A psicóloga e doutora Adriana Barbosa, seguidora da escola psicanalítica de Sigmund Freud, admira a técnica da constelação familiar, mas acredita que não há nenhuma comprovação científica de que ela realmente funcione como uma terapia tradicional. “Sou muito cética, mas ouço relatos de pessoas que realmente se sentiram curadas com a constelação. Admiro o trabalho dos terapeutas nessa área, mas, como digo, é algo alternativo, que, com certeza, ajuda muito na busca do autoconhecimento, mas jamais deve tomar lugar da genuína psicoterapia, do divã, das sessões com psicólogos formados”, acredita.

O criador

Antigo padre e missionário junto aos zulus, na África do Sul, o alemão Bert Hellinger é educador, psicanalista, terapeuta corporal, familiar e de grupos. Um homem com muita sabedoria e experiência de vida, segundo seus seguidores. Como viveu durante muitos anos em situações conflituosas, como soldado durante a Segunda Guerra Mundial, e depois se tornou padre, essas experiências tiveram um profundo efeito no desenvolvimento das constelações familiares. Bert Hellinger, hoje com 92 anos, escreveu mais de 84 livros, traduzidos em 30 idiomas. O seu trabalho está documentado em numerosos CDs e DVDs

Do trabalho ao lar

Poli Halfeld, 59 anos, é proprietário de um salão de beleza que mudou muito. O lugar não passou por reformas físicas, o dono não gastou um centavo com troca de mobília, mas quem entrou no local depois das sessões de constelação feitas por ele e seus funcionários percebeu transformações. “Quando cheguei ao trabalho, depois da ser constelado, já senti um clima diferente, uma coisa muito interessante. As pessoas estavam mais interessadas em trabalhar juntos em uma proposta”, conta.
Tudo começou quando Poli conheceu a constelação e viu nela a oportunidade de mudar aspectos da vida que o incomodavam, começando por questões familiares. “Tenho três irmãos e cada um de nós mora em um lugar do país. A gente raramente se via, de vez em quando um aparecia na casa do outro, mas se reunir como família, não”, explica.
Para se conhecer melhor e entender os motivos dessa distância, ele fez uma sessão de constelação familiar e, a partir daí, as atitudes que ele vinha tomando começaram a ser melhor observadas. As escolhas foram analisadas e cada parente passou a ter uma atenção especial de Poli. “Eu me sentia envergonhado de ter sobrinhas já formadas que não conhecia. Isso é muita desconexão, porque são filhas do meu irmão, que é um homem superquerido e adorado pelas pessoas, mas eu não tinha essa conexão com ele.”
A terapia foi um grande norte para mudar as relações do empresário, que começou a ter aprendizados que inverteriam aquela situação. “A primeira coisa que aprendi foi a não ficar lamentando o passado. É preciso reconhecer o que aconteceu, mas seguir em frente, porque o passado não tem como mudar — nem se ficarmos remoendo.”
As diferenças do antes e do depois da constelação foram nítidas: “Nós já estamos marcando o nosso terceiro encontro. Parece que minha família voltou a ter um núcleo. Era cada um por si, muito desligados, principalmente eu, que me sentia desconectado”, conta.
Após ver todas essas ligações funcionarem, Poli passou a indicar a terapia a todos, tanto que os funcionários do seu salão também tiveram a chance de viver a experiência. “Depois da constelação empresarial que fizemos, tem uma coisa que acontece que não sei explicar o que é — algo em nível energético —, que te faz sentir conectado de novo. Eu sentia as pessoas divididas aqui no salão, hoje as vejo mais integradas”, detalha.

Saúde pública

Em março, o SUS reconheceu os benefícios da constelação familiar, colocando a terapia como uma das Práticas Integrativas e Complementares (PICS) ofertadas nas unidades de atendimento. A decisão é polêmica e vai além: em 2006, os cinco primeiros procedimentos alternativos foram incluídos no PICS — acupuntura, homeopatia, fitoterapia, antroposofia e termalismo —; em 2017, mais 14 práticas entraram na lista; e em 2018, mais 10. Hoje, 29 recursos terapêuticos são oferecidos em 9.350 estabelecimentos e 3.173 municípios. A relação completa está no site do Ministério da Saúde.

Por dentro da sessão

Uma constelação pode ser realizada em grupo ou individualmente. No método individual, são utilizadas representações simbólicas, que podem ser bonecos, cartas, almofadas, entre outros elementos. Nesse caso, explica Luci, ocorre uma sinergia muito grande entre terapeuta e constelado, pois o processo e as imagens internas de quem está sendo tratado podem ser atentamente acompanhados pelo constelador, por meio da observação corporal, da expressão dos sentimentos e das falas.
Já quando a terapia é aplicada em grupo, deixam-se de lado esses elementos representativos e são os participantes da sessão que simbolizam os laços familiares e as situações de conflito. Ou seja, em vez de o constelado eleger, por exemplo, uma carta, uma almofada ou um boneco que simbolize o pai, ele escolhe um indivíduo do grupo para isso.
De acordo com a filosofia que rege essas ações, nada disso é por acaso: o escolhido pode nem conhecer o problema da pessoa que está sendo tratada, mas vai viver ali situações importantes também para si. Assim, apesar de apenas um indivíduo ser a constelado naquele grupo, os demais também vivem um processo terapêutico.
Para a psicóloga Luci Bernardes Barros, as duas formas de constelar são eficazes e amorosas. Ela relata que, em ambas, cria-se um campo energético. Quando em grupo, os participantes, em geral, não tem nenhum prévio conhecimento entre eles nem sobre o assunto a ser trabalhado. Após compartilhar o tema com o grupo, a pessoa a ser constelada escolhe representantes para si e para seus familiares. Os representantes conseguem acessar informações inconscientes de cada elemento ou familiar representado.
O campo familiar que é acessado numa constelação pode ser comparado a uma consciência que contém todos os dados relevantes daquela família. Todos os representantes e participantes são influenciados, neste momento, por esse campo, independentemente de vontade ou escolha, segundo relata Luci Bernardes.

Campo energético

O cientista inglês Rupert Sheldrake denomina este campo de morfogenético. Assim, quem representa uma pessoa entra em contato com a história dela. Ele afirma que o campo sistêmico é muito poderoso, todos se beneficiam e entram em movimento de cura. A psicóloga esclarece, ainda, que a constelação é um método isento de crenças religiosas ou de quaisquer experiências místicas ou sobrenaturais. “A vivência não substitui nenhum tratamento médico ou psicológico, mas os complementa”, adverte Luci Bernardes.
Ela salienta que essa terapia pode ser capaz de liberar sentimentos dolorosos que marcaram um comportamento familiar e que podem estar atraindo outros membros para uma repetição em gerações posteriores. “Muitas vezes, um neto ou bisneto poderá, por amor, repetir, de forma inconsciente, esse destino”, reflete. Na opinião da psicóloga, a constelação não dá respostas, mas ajuda as pessoas a olharem para questões importantes que, muitas vezes, podem estar bloqueando o fluxo de amor em suas vidas.
O interessante, para a consteladora, é que o método revela as ordens do amor que precisam ser respeitadas, para que os padrões doentios não se repitam. Essas ordens referem-se a três princípios norteadores — pertencimento, equilíbrio e hierarquia. “Segundo Bert Hellinger, o amor é a maior força da existência. O fluxo do amor é interrompido, principalmente, com o julgamento e o desrespeito. Todo desrespeito gera desordem e desarmonia”, completa Luci Bernardes.

Sintomas da desordem

Os estudos da constelação dizem que existem ordens que regem as interações familiares: cada membro tem seu papel e suas atribuições dentro desse sistema, mas Larissa Oliveira, 30 anos, era uma das pessoas que não sabia disso. Como não teve a presença paterna dentro de casa, a secretária parlamentar acabou pegando para si responsabilidades e atribuições que não eram dela e descobriu que quem carrega muito peso, uma hora, sente as dores.
“Comecei com a acupuntura para resolver uma dor nas costas. Também vinha me tratando com reiki. A minha terapeuta reikiana disse que seria legal fazer uma constelação familiar. Eu fui com o intuito de descobrir por que eu adoecia a toda hora.”
A cada sessão, Larissa ia descobrindo os motivos das disfunções do corpo, relacionados a problemas de desordem na família. Ela passou a observar melhor suas atitudes, seu jeito de se portar diante das situações e sua posição nos conflitos, o que a fez perceber que a frieza da racionalidade nem sempre é a melhor opção. “Hoje, vejo que tem mais coração em tudo o que faço, consigo olhar para as coisas com mais sentimento, que antes eu bloqueava muito. Por precisar ter sido a pessoa forte da família a vida toda, que resolvia tudo, eu me tornei muito prática, mas com pouco sentimento”, conta.
Esse autoconhecimento construído na constelação foi fundamental na vida da secretária, que se tornou outra pessoa sem os pesos que carregava. “As pessoas ao meu redor viram muita diferença em mim. Mais serenidade, tranquilidade, encarando tudo com mais leveza”, lembra. Com a ordem familiar estabelecida, Larissa conseguiu se livrar das dores que a levaram para sua primeira sessão, mas não pode falar que terminou a terapia sem sentir nada, pois foi justamente o fato de conseguir sentir mais que a transformou.
“Começar a ter mais sentimento é assustador em um primeiro momento. O processo de se conhecer traz muitas descobertas, então, nesse começo, a gente pensa: ‘Mas eu nunca senti isso, por que isso está acontecendo?’ E agora vejo o quanto isso é bom, porque a gente passa a fazer as coisas com o coração.”

Capacitação

Não existe uma só formação possível para se tornar um constelador, mas tem surgido no Brasil uma organização cada vez maior na área, com aproximações científicas. É isso que explica Miriam Coelho Braga, consultora organizacional e terapeuta corporal. “Existem muitos treinamentos e informações. Eu, por exemplo, coordeno um curso de pós-graduação em constelações, o primeiro do Brasil a nível acadêmico. Esse é um conhecimento que o profissional precisa, porque ele dá sustentação teórica na ciência, bases práticas e, sobretudo, uma ética”, justifica. A experiência de Miriam mostra que o caminho é sempre se profissionalizar ao máximo para essa área, já que ela envolve os mais profundos sentimentos e sentidos dos clientes. “É algo sensível, porque o cliente pode surtar se não tiver um profissional capacitado com ele.”

Mediando vidas

Elisângela Barbosa, 44 anos, estava divida entre qual rumo tomar: se seguia a carreira profissional ou a abandonava para se dedicar exclusivamente a fazer constelações. No meio desse dilema, uma desconhecida foi quem a ajudou na decisão: “Eu estava andando na rua com aquele pensamento e, de repente, apareceu ao meu lado uma mulher que eu nunca tinha visto, com aparência de cigana, me tocou o ombro e me ofereceu uma flor — metade das pétalas era laranja e a outra metade vermelha. Então, a moça me falou: ‘Continue nos dois caminhos’. E seguiu andando”, conta.
Foi assim que a consteladora conseguiu aliar ambos os trabalhos e vivências para ajudar em processos familiares, individuais e até empresariais. “A vida foi me levando para um caminho holístico porque, ao mesmo tempo em que atuava como assistente social e psicopedagoga, eu tinha as dores familiares da ausência do meu pai, da força da minha mãe em precisar dizer que ele nos abandonou... E todas essas dores, me levaram a chegar até a constelação.”
Fazendo essa terapia há cinco anos, Elisângela já ajudou gente com os mais diversos problemas. Marcam sessões com ela pessoas que querem entender a depressão, as doenças físicas, as relações com membros da família e até a dificuldade de andar de bicicleta ou dirigir. Os métodos são complexos e envolvem as teorias de Bert Hellinger, mas, na prática, tudo flui em harmonia para que se alcance o tema de quem participa.
Elisângela trabalha os dois métodos. “Faço a constelação individual — com os bonecos — e em grupo — com pessoas”, explica. Mas, para ela, o segundo é mais interessante por sempre reunir pessoas com dificuldades comuns, mesmo que os presentes no dia não se conheçam: “Quando começo a montar a cena da constelação, chegam pontos de dores e sentimentos das emoções de todo mundo presente.”

Guia

Embasada em todos os conhecimentos sobre as teorias da constelação que adquiriu nesses anos, Elisângela explica que seu trabalho é apenas guiar a pessoa constelada, mas isso exige a sensibilidade de observar mais do que ela percebe. “Sou apenas uma mediadora na constelação, faço uma leitura que está no inconsciente dela a partir da cena que ela mesma me trouxe”, detalha. O que acontece a partir daí, garante, vai depender de cada caso, todos devidamente explicados pelas ordens do amor e suas leis do pertencer, do dar e receber e da hierarquia.
“Bert Hellinger descobriu que existe uma memória sistêmica familiar e, quando algo não é resolvido lá atrás, algum membro para a frente vai tentar resolver. Vamos dizer que a mãe se separou do pai e ele foi excluído. Pelas leis que Bert construiu, ninguém pode ser excluído. Então, se ele foi, alguém para a frente vai tentar incluir esse homem de alguma maneira. E a forma mais prática que a alma da pessoa vê para incluir esse membro é copiando comportamentos dele, de forma inconsciente.”

Visão Sistêmica

Cada pessoa reage de uma forma diferente diante do novo e do desconhecido. Há, por exemplo, aqueles que só querem distância — talvez por medo ou insegurança —, aqueles que entram de cabeça para saber do que se trata — com uma curiosidade aguçada —, e os que desdenham, mas não abrem mão de conhecer melhor aquele universo, como Cláudio de Jesus, 45 anos.
O advogado não acreditava muito nas transformações da constelação que tanto lhe falavam, mas também não se fechou a ponto de não querer saber daquilo. Quando uma amiga que tinha feito essa terapia o chamou para uma sessão em grupo, ele foi com a cabeça aberta e presenciou de corpo e alma aquelas energias.
“Fui chamado para integrar o desenho da constelação de uma pessoa. Então, entrei para o grupo familiar dela e assumi o papel de um indivíduo que não gostava dela — mas eu não sabia disso. Ela me posicionou ao lado da pessoa que a representava na constelação e meu braço, imediatamente, ficou dormente. A partir daí, minha descrença caiu por terra.”
Essa primeira experiência fez com que Cláudio compreendesse a terapia na prática — coisa que, a partir dali, foi sendo levada adiante por ele em sua vida e em seu escritório. “Eu comecei a ficar curioso e a participar de várias constelações. Muita coisa mudou, porque aprendi a interpretar as relações. Recentemente, atendi um pai que estava tendo problema com a filha, que, para mim, era uma questão constelar. A orientação que dei me dispensou como advogado, mas ele saiu extremamente agradecido e emocionado”, relata.
A constelação, de fato, tem sido aplicada com frequência no campo da advocacia, inclusive com juízes usando-a para ajudar os envolvidos nos casos a compreenderem os motivos dos seus conflitos e a pensarem em alternativas. Mas isso não é novidade para Cláudio. “Estão falando muito agora sobre o direito sistêmico, mas eu sempre fiz isso, só não sabia que era constelação. Sempre achei que as relações no direito de família, por exemplo, são frutos de um problema de constelação familiar. As pessoas se aproximam e se distanciam, mas precisam entender o porquê disso.”

A serviço da Justiça

Se existe uma terapia que busca solucionar conflitos familiares, por que não aplicá-la na advocacia? Essa pergunta foi feita por vários advogados e juízes, como o criador da expressão, o juiz baiano Sami Storch, que enxergou nos tribunais e escritórios uns dos lugares mais propícios para implementar essa técnica, como explica Luciana Pereira da Silva, advogada atuante no direito de família. “Começou a se perceber que usar mecanismos paralelos pode ajudar no encerramento de demandas judiciais, evitando maiores traumas para as partes envolvidas, especialmente no direito de família. A utilização dessa técnica passou a se oficializar em alguns tribunais, reduzindo drasticamente o número de processos em que não se chegava a um acordo. Aqui em Brasília, o TJDFT divulgou em 2016 oficialmente a utilização das constelações familiares para resolução dos conflitos processuais que estavam sob sua competência. E, no ano seguinte, apontou o número de acordos em 61% dos casos”, explica Luciana.